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sexta-feira, 11 de maio de 2018

SALVEM AS VEREDAS

As populações do cerrado sabem muito bem o que são veredas, mas não se pode dizer o mesmo dos cientistas, pois ainda não existe uma definição universal do que é uma vereda: botânicos, geógrafos, ecólogos, engenheiros florestais, biólogos entre outros têm várias definições para o ambiente de veredas. Os elementos comuns a essas definições incluem os fatos de serem subsistema do Cerrado com áreas úmidas que acompanham os cursos d’água, com solos orgânicos, geralmente caracterizados pela presença marcante das palmeiras buriti. 


Alguns dos mais importantes rios do Brasil – Xingu, Tocantins, Araguaia, São Francisco, Parnaíba, Gurupi, Jequitinhonha, Paraná e Paraguai, entre outros – nascem no Cerrado. Trata-se da única savana do planeta dotada de rios perenes. A rápida conversão do Cerrado em pastagens e lavouras e o manejo inadequado das áreas preservadas colocam em risco esse formidável recurso natural.  A destruição do Cerrado constitui uma perda inestimável em termos de biodiversidade. Sabe-se que o Cerrado tem um potencial de regeneração natural muito alto. Mas até que ponto vai sua resiliência?
A regeneração natural do Cerrado se restringe às espécies arbóreas, o que significa dizer que o empobrecimento da vegetação é decorrente da ação da agropecuária. Temos de desenvolver e restabelecer as condições propícias para as abundantes espécies arbustivas. Uma vez eliminada, a vegetação rasteira ou de pequeno porte, que compõe o estrato herbáceo-arbustivo e que contém a maior parte das espécies endêmicas, não se regenera. Então, quando a pastagem é simplesmente abandonada, ela se transforma, depois de algum tempo, em um cerradão, que é uma formação caracterizada por vegetação muito adensada, com grande predomínio de árvores e pobre em biodiversidade.
As árvores se recuperam por possuírem raízes muito profundas, desenvolvendo a capacidade de rebrotar inúmeras vezes. O estrato herbáceo-arbustivo, que é removido para a implantação das pastagens, não se recompõe, devido à invasão dos terrenos por gramíneas exóticas muito resistentes e agressivas: as braquiárias. Essas só desaparecem com o sombreamento, causado pelo adensamento das árvores. Mas, quando desaparecem as gramíneas exóticas, as plantas originais de pequeno porte, que foram completamente erradicadas pelos herbicidas, pelas roçadas e pela competição com as braquiárias e que não toleram a sombra, também não voltam mais. Para fazer com que a área voltasse a abrigar um cerrado típico, seria necessário eliminar as gramíneas exóticas, uma operação bastante difícil.
Para que uma área de pastagem volte a ser um cerrado típico, com riqueza de biodiversidade, com a flora característica, com habitats para fauna especializada em savana, é necessário manejo humano: não se pode deixar que o adensamento das árvores passe do limiar de 15 metros quadrados por hectare; é preciso erradicar o capim exótico; e deve-se reintroduzir o estrato herbáceo-arbustivo nativo. Evoluindo espontaneamente, sem manejo, a vegetação arbórea nas antigas áreas de pastagem irá se transformar em cerradão. 
A degradação de nosso cerrado é devido ao sobrepastoreio, especulação imobiliária, à exploração de lenha e a outras ações cujos impactos são menos visíveis no curto prazo. Quanto mais destrói a vegetação menos água vai ter. A resiliência é grande, mas não eficaz. O manejo é primordial para a salvação deste ambiente natural. Reintroduzindo a vegetação natural, colhe-se água. 

VEREDAS 

É um subsistema do bioma Cerrado, que pode ser entendido como uma área pantanosa, formado geralmente por caminhos mal delimitados de água em solos hidromórficos, com presença da palmeira buriti, surge nas florestas galeria. 
A importância primordial das veredas como recurso ambiental é o fato de serem áreas produtoras de água. Nascentes que deveriam permanecer intocadas, em benefício dos rios a que dão origem e das comunidades bióticas que delas dependem. São subsistemas úmidos que participam do controle do fluxo do lençol freático. Sistema represador da água armazenada na chapada, responsáveis pela manutenção e multiplicação da fauna terrestre e aquática. Além disso, também possuem uma importância econômica e histórica. Importantes por serem determinantes para a fixação do homem no campo e desenvolvimento da região Cerrado. 
Como as águas superficiais são rapidamente evaporadas durante os meses de seca, a única água disponível vem geralmente do subsolo: o aquífero. Essa água armazena-se nas cavidades e na porosidade da rocha onde é protegida dos raios solares que, se estivesse na superfície, evaporaria. O aquífero pode ser comparado a uma esponja que, nas suas partes mais baixas, deixa a água chegar à superfície. São nestes lugares justamente que se encontram as veredas que representam, para o aquífero, pontos de reabastecimento em água; especialmente durante a época das chuvas.
Como suas formações se desenvolvam nos vales onde a umidade é maior e as temperaturas mais amenas do que nos cerrados do entorno, esses ambientes acabam funcionando como refúgios úmidos indispensáveis para a sobrevivência de grande parte das espécies da fauna, e como dito antes, para o abastecimento do lençol freático e consequentemente dos rios. 
As veredas, assim como os campos úmidos associados a elas são áreas úmidas, caracterizadas por solos encharcados e, portanto, são também grandes armazenadores de carbono (Meirelles et al 2006) e estão hoje entre os ecossistemas mais ameaçados. Apesar dessa importância, as Veredas têm sido progressivamente pressionadas em várias localidades do bioma Cerrado pelas atividades agrícolas e pastoris. 
Já apresentando déficit no fator resiliência. Este subsistema do bioma Cerrado, também sofre com as várias formas de ocupação do espaço natural. Em todas suas variações, as veredas são nascentes muito suscetíveis a rápida degradação que afetam em seu entorno.
Por tudo isso, as veredas são de imensa importância na manutenção do equilíbrio ambiental no bioma cerrado e devem ser preservadas, mas mesmo assim, as veredas são ambientes que sofrem forte pressão antrópica. Resta-nos apenas exigir posições do poder público na defesa das veredas e conscientizar as pessoas quanto ao valor imensurável desse patrimônio natural – a rica paisagem das veredas.


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